Se você já leu os posts anteriores sobre a minha jornada para o intercâmbio, sabe que pesquisei muitas agências de intercâmbio (link para os posts anteriores). No meu caso, fui atraído pelo YouTube. Já me encontrava mergulhado em vários vídeos sobre intercâmbio e, inclusive, já me sentia amigo dos YouTubers, mesmo sem nunca tê-los conhecido pessoalmente.
Esse é um efeito muito comum: depois de assistir a vários vídeos de uma pessoa, acabamos nos sentindo próximos dela. Dois canais me marcaram muito: um foi o primeiro vídeo que me apresentou à Irlanda, abrindo um futuro que eu sequer podia imaginar. O outro foi o de um homem que chamaremos de "João", para evitar problemas.
A Oferta do João
João era uma figura carismática. Ele possuía uma agência/escola de inglês na Irlanda e sempre aparecia em seus vídeos usando um chapéu de palha no estilo sambista, gravata e camisa. Seus vídeos eram bem amadores, gravados em uma mesa no que parecia ser o escritório dele. Muitas vezes, havia estudantes que tinham acabado de chegar na Irlanda, dando depoimentos sobre os serviços da agência.
Ele parecia ser a solução para todos os problemas: pessoas com dificuldades na imigração, problemas com outras agências ou até com escolas. João sempre tinha uma resposta e um jeito de ajudar. Aquilo me chamou atenção, e fiz o primeiro contato com a agência dele.
A estratégia de marketing era clara: eles não me responderam de imediato. Isso aumentou meu interesse, criando a sensação de escassez, uma técnica muito usada para despertar o desejo de compra. Enquanto aguardava a resposta, continuei assistindo aos vídeos do João.
A oferta dele parecia irresistível: além do curso de inglês, acomodação e seguro, ele oferecia um curso de três meses de espanhol, tudo por um valor menor que o das outras agências. Essa combinação chamou minha atenção, mas ao mesmo tempo, algo não parecia certo.Um Alerta Interno
Mesmo sem ter a experiência que tenho hoje, depois de 10 anos na Europa, algo naquele pacote me deixou desconfortável. Na época, os intercâmbios geralmente incluíam seis meses de curso de inglês, mas o visto era de um ano (seis meses de estudo e seis de férias). A ideia de encaixar um curso de espanhol nesse período não fazia sentido.
Aprender um idioma leva tempo. Hoje, vivendo na Alemanha e tendo aprendido o alemão, entendo que os primeiros meses ou até mesmo o primeiro ano são dedicados apenas a se acostumar com o básico do idioma e da cultura local. O sotaque irlandês, por exemplo, foi um choque para mim e para meus amigos. Lembro de brincarmos: "Isso é inglês?"
Com essa reflexão, percebi que a proposta do João era boa demais para ser verdade.
O Encontro Que Nunca Aconteceu
Apesar das dúvidas, ainda estava em contato com outras agências e selecionei três possibilidades confiáveis. Fiz um último contato com a agência do João, e uma coordenadora me disse que eu estava com sorte: João estava em São Paulo e se encontraria com um aluno prestes a embarcar para a Irlanda. Seria a oportunidade perfeita para conhecê-lo pessoalmente e conversar com o futuro intercambista.
Programei-me para faltar ao trabalho por uma hora e encontrá-los na Avenida Paulista. Porém, eles nunca mais me contataram. Pouco tempo depois, começou uma onda de fechamento de escolas de idiomas na Irlanda, devido à falta de regulamentação e à má gestão das escolas.
A escola/agência do João foi uma das que fecharam, lesando inúmeros intercambistas. Enquanto eu me preparava para o meu embarque, acompanhava notícias de pessoas sendo prejudicadas. Lembro até de ver um vídeo em que diziam que João havia sido agredido e, em outro, ele prometia devolver o dinheiro parcelado para os clientes.
Próximo Post
No próximo post, vou contar sobre o fechamento das escolas de idiomas na Irlanda entre 2014 e 2015, e como isso impactou diretamente os intercambistas nos anos seguintes.
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